Afecções Congênitas e Hereditárias

15/11/2011 18:57

Afecções Congênitas e Hereditárias

XERODERMA PIGMENTOSO

 

Entre as inúmeras afecções cutâneas que podemos vivenciar na prática dermatológica, uma de suma importância é o Xeroderma Pigmentoso (XP). Essa patologia está inserida no grupo das Doenças Poiquilodérmicas Hereditárias, sendo caracterizada por anormalidades no reparo do material genético celular.

O xeroderma pigmentoso é uma afecção hereditária de caráter autossômico recessivo, podendo em alguns casos decorrer de uma herança autossômica dominante, sendo apresentada de forma mais branda. Sua patogênse envolve o defeito no reparo do DNA, resultando, assim, comprometimento do ciclo celular, o que leva a uma queda do crescimento celular e mutações somáticas, levando a desordens de pigmentação (hipo e hiperpigmentação), além da atrofia cutânea e susceptibilidade a desenvolver o câncer de pele. Essa predisposição pode chegar a um aumento de cerca de mil vezes na incidência de câncer cutâneo nos portadores de XP quando comparados aos indivíduos não portadores da doença, devido a maior sensibilidade aos raios solares, principalmente em regiões continuamente expostas à luz ultravioleta, como cabeça e pescoço. Vale ressaltar que outros tumores de caráter maligno, como câncer pulmonar, cerebral, gástrico, renal, também apresentam maior prevalência nos indivíduos acometidos por essa doença.

Com relação às manifestações clínicas, as lesões, geralmente, apresentam-se nos primeiros anos de vida, evoluindo de forma lenta e progressiva. Inicialmente, são marcadas por um discreto eritema com descamação e hiperpigmentação difusa ou lesões efelidóides, como pode ser visto na figura 1. Posteriormente, a lesão torna-se mais pigmentada, entremeadas por áreas despigmentadas e com telangectasia, além da atrofia cutânea e queratoses, como visto na figura 2. Por fim, é possível verificar o surgimento de tumores cutâneos, especialmente os cânceres de pele baso e espinocelular. Vale ressaltar que as manifestações clínicas do XP, vão além da pele, podendo desenvolver alterações oftálmológicas, como opacidade corneana, conjuntivite, alterações neurológicas, a exemplo do retardo mental, hiporreflexia, espasticidade e ataxia, além de outras alterações como o hipodesenvolvimento sexual e nanismo. Nas formas mais graves da doença, os indivíduos podem evoluir com óbito ainda no primeira década de vida.

     

 

  O diagnóstico do XP é feito por meio dos achados clínicos e histopatológicos, além de poder ser confirmado por testes laboratoriais especiais através da análise do dano do reparo de DNA em células de culturas expostas à radiação ultravioleta, podendo ser obtido até mesmo do material colhido na amniocentese durante acompanhamento pré-natal. 

Com relação ao tratamento, infelizmente não há cura. Porém, deve-se orientar o paciente quanto a necessidade de proteção da pele e mucosas à exposição da radiação ultravioleta, fazendo uso de bloqueadores solares, óculos escuros e chapéus. Para tratar as queratoses actínicas e tumores, pode-se utilizar medicamentos tópicos, como o imiquimod, cirúrgicos e ou crioterapia com nitrogênio liquido. Pode-se também utilizar retinóides para reduzir e prevenir lesões, bem como a acitretina e a isotretinoína, principalmente naqueles com história de neoplasias.

Diante da diversidade de manifestações clínicas, complicações, comprometimento da qualidade de vida e prognóstico muitas vezes sombrio, é interessante realizar o aconselhamento genético e o suporte psicossocial destes pacientes. Devendo sempre ver o indivíduo como um todo, esclarendo suas dúvidas, confortando suas queixas e realizando um exame dermatológico minuscioso a fim de trazer maiores benefícios para tal. 

 

Por Milena Menêses

Referências:

1 Vieira SC, Lara JRL, Lopes MMF, Teshirogi EY, Calvis LA. Xeroderma pigmentoso: Experiência do Hospital AC Camargo.Acta Oncol. Bras 1997; 17: 62-6.

2 Llereba Jr JC. Síndromes de predisposição ao câncer associado a defeitos de reparo do DNA. In: Louro ID. Genética molecular do câncer. São Paulo, MSG Produção Editorial, 2002:129-42.

3 Kraemer KH. Cellular hypersensitivity and DNA repair. In: Freedberg IM, Eisen AZ. Fitzpatrick’s dermatology in general medicine. New Yorl, McGraw-Hill, 2003:1791-811.

4 Agne, Heron Cecil Coelho; Alvarez, Suhira Souto; Ritzel, Rodrigo Agne; Feistler, Rafael Schmidt; Agne, Daniela Aita. Xeroderma pigmentoso: relato de três casos em uma mesma família, J. bras. med;77(2):80-84, ago. 1999.

5 Menck, CFM, Armelini, MG and Lima-Bessa, KM (2007) On the search for skin gene therapy strategies of xeroderma pigmentosum disease. Current Gene Therapy, 7(3): 163-174.

6 Livro de Dermatologia Sampaio e Rivitti, 3ª edição

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